Organizações assinam carta aberta às lideranças do G20: um chamado para transformar os sistemas alimentares globais

A Mercy For Animals, junto com outras organizações ao redor do mundo, assinou uma carta aberta endereçada às lideranças do G20 e de instituições financeiras internacionais. O documento pede alinhamento entre políticas públicas e financiamentos que apoiem pequenos produtores independentes, estimulem práticas agroecológicas e garantam o bem-estar dos animais.

As organizações alertam para os impactos da pecuária industrial e da aquicultura no meio ambiente e na garantia da segurança alimentar e nutricional da população global e de futuras gerações – apelando que estas lideranças promovam e apoiem sistemas alimentares verdadeiramente sustentáveis, saudáveis e resilientes.

Leia a carta na íntegra: 

Carta Aberta para as Instituições Financeiras Internacionais e Países do G20 sobre seus Compromissos para Enfrentar a Pobreza e a Fome

Celebramos a iniciativa lançada em julho pela presidência do G20 no Brasil de estabelecer uma “Aliança Global Contra a Pobreza e a Fome” (Aliança Global). Erradicar a pobreza e a fome é extremamente urgente e deve ser uma prioridade global.

Em um apelo coletivo, mais de cem organizações da sociedade civil pediram a todos os líderes mundiais que assumam um compromisso com a Aliança Global. Motivamo-nos pelos pelos compromissos do CAF (Banco de Desenvolvimento da América Latina), AfDB (Banco Africano de Desenvolvimento), AIIB (Banco Asiático de Investimento em Infraestrutura), BID (Banco Interamericano de Desenvolvimento), BEI (Banco Europeu de Investimento), FIDA (Fundo Internacional de Desenvolvimento Agrícola), FMI (Fundo Monetário Internacional), NDB (Novo Banco de Desenvolvimento) e o GBM (Grupo Banco Mundial), em particular através da AID (Associação Internacional para o Desenvolvimento).

A pobreza e a fome são, em grande parte, consequência de falhas estruturais no sistema econômico, que agravam as desigualdades sociais. A insustentabilidade dos sistemas alimentares atuais é um dos principais vetores desse complexo desafio, que desperdiça recursos críticos, prejudica economias, compromete a segurança alimentar e exacerba as  vulnerabilidades a eventos extremos. 

Conforme destacado no recente relatório do Banco Mundial, “Receita para um Planeta Habitável”: “O sistema que nos alimenta também alimenta a crise do planeta”.

Por isso, enaltecemos os Documentos Constitutivos da Aliança Global que reconhecem a importância de “alcançar a segurança alimentar e nutricional através de dietas saudáveis”[…] e que isso reduz a pressão sobre os sistemas de saúde pública e da previdência social. O documento reconhece também a  importância de “aumentar o acesso a dietas adequadas, diversificadas e saudáveis”[…], que “também pode criar incentivos para a conservação e uso sustentável da biodiversidade e adaptação e mitigação das mudanças climáticas, contribuindo para a implementação rápida, completa e eficaz do Quadro Global de Biodiversidade Kunming-Montreal e para a realização da Visão 2050 de ‘Viver em harmonia com a Natureza'”. Também parabenizamos o compromisso da Aliança Global em apoiar pequenos agricultores e honrar os idosos, os povos originários e as comunidades locais.  

No entanto, em contraste com esses objetivos, uma análise da Coalizão Stop Financing Factory Farming mostrou que, somente no último ano, os maiores bancos de desenvolvimento (muitos dos quais comprometidos com  a Aliança Global) forneceram quase US$ 3 bilhões em apoio ao setor de pecuária industrial. Além de ser o maior vetor de desmatamento e o maior emissor de metano antropogênico (um fator chave para as mudanças climáticas), esse setor também agrava a insegurança alimentar. A cadeia da pecuária industrial  amplia grandes desigualdades sociais, concentrando poder nas mãos de corporações multinacionais, enquanto destrói redes alimentares locais  que garantem a soberania alimentar de seus territórios.

O financiamento é essencial para combater a fome, mas esse incentivo precisa ser direcionado para sistemas alimentares saudáveis e sustentáveis, de modo a apoiar, e não a prejudicar esse objetivo. Consulte nosso informativo no Anexo desta carta para mais detalhes.

Portanto, solicitamos aos financiadores da Aliança Global e aos países do G20 que invistam em sistemas alimentares verdadeiramente sustentáveis e deixem de financiar o sistema que originou a crise atual.

Reforçamos a urgência que os financiadores da Aliança Global e que os países do G20 alinhem suas políticas atuais aos princípios da Aliança, apoiando pequenos produtores sem vínculos com corporações industriais, estimulando sistemas alimentares diversificados que utilizem práticas agroecológicas, promovendo a equidade de gênero e garantindo o bem-estar animal. Diversos relatórios científicos, incluindo os da Eat Lancet, IPCC, IPBES e o recente “Receita para um Planeta Habitável” do Banco Mundial, mostram que a transição para dietas mais ricas em vegetais é urgente para alcançar os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável, incluindo o ODS2, de erradicação da fome.

Agradecemos sua consideração e estamos à disposição para colaborar e discutir mais profundamente o assunto e caminhos para a transição.

Atenciosamente,

Ação da Cidadania

Compassion in World Farming

Fórum Nacional de Proteção e Defesa Animal

Friends of the Earth U.S.

Global Youth Coalition

Good Food Institute Brasil

Humane Society International

ICLEI Governos Locais pela Sustentabilidade – América do Sul
International Accountability Project

Instituto Comida e Cultura

Instituto Sea Shepherd Brasil

Mercy For Animals no Brasil World

Proteção Animal Mundial – Brasil
Sinergia Animal

Sociedade Vegetariana Brasileira

World Animal Protection

Food Forum – Argentina

 

Confira dados sobre a pecuária industrial