Gripe Aviária e o perigo de uma nova pandemia

O vírus da gripe aviária pertence ao grupo dos vírus influenza A, e seu subtipo, o H5N1, é classificado como altamente patogênico (HPAI) entre aves, ou seja, é capaz de causar infecção grave e morte rápida. O vírus antes restrito a aves, já foi identificado em de mamíferos, incluindo cães, gatos, ursos, focas, vacas e seres humanos, conforme apontou com registros da Organização Mundial da Saúde. 

A rápida evolução genética do H5N1 tem intensificado o temor global de que o vírus possa estar prestes a causar uma nova pandemia. Um estudo publicado na revista científica Science em 2024, alerta que esse cenário pode estar mais próximo do que se imaginava, a apenas uma mutação de distância. Os autores identificaram alterações genéticas específicas que poderiam permitir ao vírus se espalhar com facilidade entre mamíferos (Lin et al., 2024).

De acordo com Center For Disease Control and Prevention (CDC), se o H5N1 sofrer mutações que permitam a transmissão sustentada de pessoa para pessoa, ele poderia se disseminar por meio de gotículas respiratórias, da mesma forma que o coronavírus em 2020. Essa possibilidade, torna o vírus um dos principais candidatos a desencadear uma nova crise sanitária global.

Casos e mortes em humanos

Desde 2003, a Organização Mundial da Saúde (OMS) contabilizou 969 casos de infecção humana pelo vírus H5N1 em todo o mundo, dos quais 467 foram fatais. Embora a transmissão entre pessoas ainda seja considerada rara, de acordo com a Organização Pan-Americana da Saúde (OPAS), entre 2022 e 25 de fevereiro de 2025, foram registrados 74 casos humanos de infecção por influenza aviária A(H5) em quatro países das Américas .

Em meio ao atual surto de gripe aviária, foi registrada a primeira morte humana por H5N1 nos Estados Unidos. A vítima, um homem de 65 anos apresentava comorbidades, e histórico de  exposição direta a aves infectadas e ambientes contaminados.

Sintomas da gripe aviária

Os sintomas da gripe aviária em humanos podem variar bastante de quadros leves até casos fatais. Nos casos mais brandos, a infecção pode se manifestar com vermelhidão e irritação nos olhos, febre baixa, dor de garganta, coriza, tosse, dores no corpo, dor de cabeça e fadiga. Também são comuns sintomas gastrointestinais, como diarreia, náusea e vômito.

Em aves os sintomas incluem queda brusca na produção de ovos, perda de apetite, letargia, inchaço nos olhos, crista, barbelas e pernas, além de descoloração roxa nessas regiões. Também são comuns dificuldade respiratória, secreção nasal, tosse, espirros, diarreia, e até sinais neurológicos, como tremores, torção do pescoço, perda de equilíbrio e quedas, conforme alerta a Organização Mundial da Saúde. 

Exploração animal é o principal causa de avanço do vírus da Gripe Aviária

Em gaiolas ou galpões superlotados e sem ventilação adequada, milhões de frangos e galinhas são explorados para a produção de carne e ovos. Essas condições, comuns em fazendas industriais, provocam extremo sofrimento físico e psicológico aos animais, deixando-os extremamente vulneráveis a doenças.

Esses ambientes com alta densidade populacional, higiene precária e estresse contínuo criam o terreno fértil para que vírus H5N1 se multipliquem e sofram mutações aceleradas, aumentando as chances de que saltem para outras espécies. (Saenz et al., 2006; Guo et al., 2021; Mace and Knight, 2023; Hayek, 2022; Goodman et al., 2025).

A própria genética dos animais também é moldada para atender aos interesses da indústria, gerando o máximo do lucro, em detrimento da saúde das aves. Frangos explorados por sua carne, apelidados de “Frankenchickens”, são selecionados para crescer de forma anormalmente rápida, atingindo o peso de abate em apenas 47 dias, o que compromete seriamente seu sistema imunológico (National Chicken Council, 2022). Já as galinhas exploradas pela indústria de ovos são criadas para produzir mais de 400 ovos por ano, o que gera um desgaste físico intenso e as torna ainda mais suscetíveis a doenças (Fernyhough et al., 2020).

Investigações da Mercy For Animals (MFA) como “Galinhas de ovos vermelhos”  revelam os bastidores dessas granjas industriais e documentou aves aglomeradas, e impedidas de exercerem qualquer comportamento natural de sua espécie como empoleirar, construir ninho, ciscar e em alguns casos até mesmo abrir as asas.

Abate em massa de animais infectados 

No final de 2024, as Nações Unidas confirmaram que a gripe aviária havia causado a morte de mais de 300 milhões de aves em todo o mundo. Para conter o avanço da doença, os produtores frequentemente recorrem ao abate em massa, chamado Abate Sanitário, uma medida drástica que implica em altos níveis de sofrimento para os animais.

Entre os métodos mais comuns, destaca-se o uso de espuma à base de água para inundar os galpões, bloqueando as vias aéreas das aves e as sufocando lentamente. 

Outro método frequentemente utilizado é a injeção de dióxido de carbono, que provoca a asfixia das aves, causando-lhes uma morte lenta e angustiante. Além disso,  de acordo com Associação Médica Veterinária Americana em muitos casos, aplica-se o método conhecido como “desligamento da ventilação” (VSD), no qual a ventilação do galpão é desligada e o calor é mantido em níveis extremos até que as aves morram de superaquecimento. 

As condições de vida já insustentáveis em que as aves são exploradas nas granjas industriais, com alta densidade populacional e falta de cuidados adequados, agravam ainda mais a situação, tornando esses métodos de abate ainda mais perturbadores.

Gripe aviária no Brasil

​O Brasil, líder global na exportação de carne de frango, mantém-se em estado de alerta diante da ameaça da gripe aviária. Desde a confirmação do primeiro caso em aves silvestres, em 15 de maio de 2023, o Ministério da Agricultura e Pecuária (MAPA) registrou, até abril de 2025, 166 focos do vírus H5N1 em 163 em aves silvestres e três em criações de subsistência

Em janeiro de 2024, o MAPA confirmou o primeiro caso de infecção por H5N1 em mamíferos no Brasil, após a detecção do vírus em um lobo-marinho encontrado morto no litoral sul do país .

Enquanto o vírus H5N1 continua avançando em diferentes regiões do país, a Organização das Nações Unidas para a Alimentação e Agricultura (FAO) alerta para os riscos da atual dependência da produção industrial de carne.  Medidas como a diversificação da alimentação podem reduzir a pressão sobre o meio ambiente e diminuir a vulnerabilidade a futuras zoonoses.

Sistemas alimentares

O modelo atual de produção de alimentos, baseado na exploração de animais, representa um risco crescente para a saúde global, ao favorecer o surgimento de zoonoses, além de intensificar a crise climática. A indústria de carne e laticínios exige enormes quantidades de recursos naturais e é a principal responsável pelo desmatamento, emissões de gases de efeito estufa e poluição dos solos e rios.

Uma alternativa mais sustentável surge com a adoção de uma alimentação baseada em vegetais. Ao substituir a carne e o ovo por fontes vegetais de proteína, como leguminosas, grãos integrais e alimentos de origem vegetal (derivados de plantas), é possível reduzir significativamente os impactos ambientais da produção de alimentos.

Além disso, essa transição ajuda a diminuir potenciais transmissores de doenças entre animais e seres humanos.