Mude a alimentação, mude o mundo

A Mercy For Animals lançou, neste mês, uma campanha global pelo Dia da Terra. Com o objetivo de conscientizar a população sobre os impactos da alimentação para a saúde planetária, a campanha foi planejada em parceria com as equipes da MFA nos diversos países em que a ONG está presente.

O que é o Dia da Terra?

Comemorado anualmente no dia 22 de abril, conforme determinado em 2009 pela Assembléia Geral das Nações Unidas (ONU), o Dia da Terra – também conhecido como Dia Internacional da Mãe Terra – tem como objetivo conscientizar sobre a importância do meio ambiente e das boas práticas para a manutenção da vida no planeta, como conhecemos.

Gaylor Nelson, ex-senador e ativista ambiental estadunidense, foi quem incentivou a criação dessa data. Em 22 de abril de 1970, Nelson liderou um protesto ambiental e levou 20 milhões de pessoas nos Estados Unidos para as ruas, sendo considerado o maior ato da história do país.

A partir de então, não apenas foi feita a reivindicação por direitos ambientais, como também impulsionou a aprovação de mais de 20 leis ao longo dos dez anos seguintes, sendo consideradas modelos a serem seguidos por diversas nações.

Como a alimentação pode impactar na transformação planetária?

A busca de uma alimentação saudável e sustentável é do interesse de toda a sociedade, uma vez que a alimentação adequada é fundamental para promover a saúde e preservar o meio ambiente. 

Apesar das principais organizações de saúde do planeta, como a OMS e a FAO recomendarem o consumo mínimo de 400g de frutas e hortaliças por dia, o consumo médio no Brasil é de apenas 145g por dia, extremamente abaixo das recomendações.

​​Apenas 34,2% dos brasileiros consomem frutas e hortaliças cinco ou mais dias da semana, segundo a pesquisa Vigitel Brasil 2021, divulgada pelo Ministério da Saúde em 2022.

Um estudo feito nos Estados Unidos pela AHA (Associação Americana do Coração) com 2 milhões de pessoas, também indicou que o consumo de cinco a nove porções diárias de frutas e verduras reduz significamente o risco de mortes por problemas de saúde. 

Dentre as principais conclusões do estudos, destacam-se:
  • O consumo de cinco porções de frutas e hortaliças reduziu em 12% as mortes por doenças cardiovasculares.
  • O consumo de cinco porções de frutas reduziu em 10% as mortes por câncer e 35% das mortes por doenças respiratórias, como doença pulmonar obstrutiva crônica.

Considerando o contexto do Brasil, de acordo com o Guia Alimentar Para a População Brasileira, principal referência para a formulação de políticas públicas para a promoção de uma alimentação saudável e sustentável no país, os padrões de alimentação estão mudando rapidamente na grande maioria dos países e, em particular, naqueles economicamente emergentes. 

Segundo o Guia, As principais mudanças envolvem a substituição de alimentos in natura ou minimamente processados de origem vegetal (arroz, feijão, mandioca, batata, legumes e verduras) e preparações culinárias à base desses alimentos por produtos industrializados prontos para consumo. Essas transformações, observadas com grande intensidade no Brasil, determinam, entre outras consequências, o desequilíbrio na oferta de nutrientes e a ingestão excessiva de calorias. 

Na maioria dos países e, novamente, em particular naqueles economicamente emergentes como o Brasil, a frequência da obesidade e do diabetes vem aumentando rapidamente. De modo semelhante, evoluem outras doenças crônicas relacionadas ao consumo excessivo de calorias e à oferta desequilibrada de nutrientes na alimentação, como a hipertensão (pressão alta), doenças do coração e certos tipos de câncer. 

Inicialmente apresentados como doenças de pessoas com idade mais avançada, muitos desses problemas atingem agora adultos jovens e mesmo adolescentes e crianças.

Desigualdades sociais e saúde pública

No Brasil, as desigualdades sociais, agravadas durante a pandemia de covid-19, também se refletem no acesso à alimentação saudável. Ao mesmo tempo em que existem mais de 30 milhões de pessoas em situação de fome no Brasil e mais da metade da população brasileira encontra-se em estado de insegurança alimentar, o país vem enfrentando um aumento expressivo do sobrepeso e da obesidade em todas as faixas etárias. “As doenças crônicas são a principal causa de morte entre adultos. O excesso de peso acomete um em cada dois adultos e uma em cada três crianças brasileiras.”, segundo o Guia.

Para enfrentar este grave desafio de saúde pública, a principal recomendação do Guia é que a população aumente o consumo de alimentos frescos in natura, priorizando o consumo de alimentos de origem vegetal, como frutas, verduras, grãos integrais e legumes, que são aliados na prevenção e até mesmo no combate das principais doenças crônicas não transmissíveis, associadas à má alimentação. 

É fundamental destacar que o Guia Alimentar Para a População Brasileira é referência internacional, tendo inclusive inspirado a formulação do “Guia alimentar do Canadá. Coma bem Viva bem“. 

Criado por médicos nutrólogos e nutricionistas canadenses, o guia foi lançado em 2019, destacando a alimentação à base de plantas como sendo saudável e enfatizando a necessidade da população canadense aumentar o consumo de alimentos frescos e de origem vegetal, priorizando as fontes vegetais de proteína, (como tofu, grãos integrais e sementes). 

O Guia alimentar canadenese também sugere a redução no consumo de produtos de origem animal, como a carne, o peixe, o frango, os lácteos, além do ovo, como estratégias para promover mais saúde para a população do país.

Recentemente, o Ministério da Saúde do Canadá também anunciou que alimentos ricos em sódio e gorduras saturadas, o que inclui vários tipos de carnes, não poderão ser rotulados como saudáveis nem podem levar o consumidor a acreditar que esses produtos trazem benefícios à saúde. 

A Academia de Nutrição e Dietética dos Estados Unidos também considera a alimentação à base de vegetais bem planejada, saudável e nutricionalmente adequada para todos os estágios do ciclo de vida, incluindo gravidez, lactação, infância, adolescência, idade adulta, idosos e para atletas.

Em 2021, a Organização Mundial de Saúde (OMS) divulgou um documento com a recomendação para que governos promovam a alimentação vegetal, principalmente em instituições públicas, como creches, escolas, hospitais e lares de idosos. Segundo a OMS,  aumentar o consumo de grãos integrais, grãos, sementes, frutas e vegetais oferece benefícios à saúde e à segurança alimentar. Sendo assim, os governos têm o dever de estimular esse consumo.

Impactos da alimentação no planeta

Priorizar a produção de alimentos vegetais também têm impacto significativo no meio ambiente, já que em comparação com a produção de alimentos de origem animal, a produção de vegetais utiliza menos recursos naturais como água, terra e energia. 

Esses impactos também são mencionados pelo Guia Alimentar Para a População Brasileira, que pela primeira vez destaca a importância de se observar a maneira como os alimentos são produzidos e distribuídos, privilegiando aqueles cujo sistema de produção e distribuição seja socialmente justo e ambientalmente sustentável. 

O documento alerta que os sistemas alimentares baseados na agricultura familiar estão perdendo espaço para os sistemas alimentares baseados em monoculturas que fornecem matérias-primas para a produção de alimentos ultraprocessados ou para rações usadas na criação intensiva de animais. 

“Esses sistemas dependem de grandes extensões de terra, do uso intenso de mecanização, do alto consumo de água e de combustíveis, do emprego de fertilizantes químicos, sementes transgênicas, agrotóxicos e antibióticos e, ainda, do transporte por longas distâncias. Completam esses sistemas alimentares grandes redes de distribuição com forte poder de negociação de preços em relação a fornecedores e a consumidores finais” afirma o Guia Alimentar Para a População Brasileira. 

Ao mensurar os impactos ambientais da produção de alimentos de origem animal, os dados oficiais da Embrapa (Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária) indicam que: a produção de até 1 kg de carne bovina utiliza até 15,4 mil litros de água. Já o feijão, uma importante fonte de proteína vegetal, utiliza apenas 50 litros de água para a produção da mesma quantidade. 

Já a produção de carne requer até 100 vezes mais áreas de terra do que a produção de alimentos vegetais. A pecuária é a principal responsável pelo desmatamento ilegal de vegetação nativa, impactando gravemente a vida silvestre em biomas brasileiros, como a Amazonia, o Pantanal e o Cerrado.

Uso de terra por alimento

A ONU defende que países adotem medidas para promover a alimentação sustentável que valorizem a biodiversidade alimentar, e alerta para o impacto excessivo dos produtos de origem animal no clima.

 “Seria de fato benéfico, tanto para o clima quanto para a saúde humana, se as pessoas de muitos países ricos consumissem menos carne, e se as políticas locais tivessem incentivos para esse efeito.” afirma Hans-Otto Pörtner, co-presidente de um grupo das Nações Unidas referente ao Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC).

Em uma matéria publicada pela revista Science,  cientistas comprovam que ações pessoais como a redução do consumo de carne podem ter impacto positivo no meio ambiente e sugere que a  eliminação do consumo de carne e derivados pode salvar o planeta de um colapso ambiental.  Se o consumo de carne fosse erradicado em até 15 anos, as emissões de CO2 diminuíram em até 68%.

Gráfico emissão de carbono dos alimentos

 

É urgente nos engajarmos pela transformação do sistema alimentar,  priorizando a alimentação vegetal como  a maneira mais eficiente de preservar áreas de terra, reduzir a emissão de gases de efeito estufa e o desmatamento. 

Impactos nos animais 

Incentivar o consumo de alimentos vegetais também contribui para a  diminuição da demanda por carne e pode poupar a vida de milhões de  porcos, galinhas, vacas e outros animais que são criados para o consumo humano.

Animais são seres sencientes capazes de sentir dor e emoções complexas como ansiedade, medo e luto, por isso também é preciso colocar os interesses deles na equação para criar um sistema alimentar mais compassivo e justo. O Vegan Calculator estima que a decisão de um indivíduo de não comer carne por um ano ajudaria a salvar a vida de mais de 365 animais.

Gráfico: Número de animais que são potencialmente salvos com uma alimentação vegana.

 

Faça parte da mudança

Transformar os próprios hábitos alimentares e aprender a preparar saborosas receitas vegetais pode auxiliar muito no processo de transição para quem deseja reduzir ou eliminar o consumo de alimentos de origem animal.

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