Em crise desde 2013, a Venezuela está sofrendo com uma escassez de produtos até mesmo nas prateleiras dos mercados causada pela morte do ex-presidente Hugo Chávez, aumento vertiginoso da inflação e queda no preço do petróleo – base da economia do país. As sanções econômicas impostas pelo presidente americano Donald Trump potencializaram o já crítico desabastecimento.
A nova solução encontrada pelo presidente Maduro foi distribuir coelhos para a população mais humilde. As autoridades calcularam que era possível obter (e comer) até 80 coelhos por ano com apenas uma coelha.
Sentindo repulsa pela sugestão de comer os coelhos, os venezuelanos recusaram-se a matá-los. A ideia era combater a fome com o abate dos animais, porém o que aconteceu foi bem diferente: as famílias começaram a se apegar aos coelhos e a se recusar a matá-los. O próprio ministro para a Agricultura Urbana admitiu que ocorreu um “imprevisto” no plano. “Há um problema cultural, pois nos ensinaram que o coelho é um animal de estimação. Ele não é um mascote, são dois quilos de carne com alta proteína e sem colesterol”, afirmou Freddy Bernal.
A decisão dos venezuelanos e a repercussão das pessoas ao redor do mundo, dizendo que jamais teriam coragem de matar os coelhos, levantam algumas questões importantes a respeito do consumo de carne.
A primeira é que isso acontece porque as pessoas, na realidade, não se sentem confortáveis com a ideia de matar outro ser e a maior parte jamais sujaria as próprias mãos de sangue. No mercado, com acesso à carne já cortada e embalada, poucas pessoas estão dispostas a associar aquele produto a um ser que sofreu durante toda a sua breve vida, e que poderia e deveria ter sido um animal com uma família e amigos, livre para se expressar e sentir. Se todos tivéssemos que caçar ou pelo menos matar nosso próprio alimento, a esmagadora maioria jamais suportaria fazê-lo. Então por que aceitamos pagar para que outros o façam?
A segunda questão é que essa situação mostra que a carne que comemos e os animais que temos como companhia são escolhas culturais, pautadas muito mais por hábitos e costumes do que por algum motivo racional. Ao mesmo tempo que para nós comer coelho é estranho, na Europa é um hábito comum. Em quase todo o mundo se come carne de boi, enquanto na Índia as vacas são sagradas. As pessoas sentem pena dos cachorros abatidos na China, porque pensam em seus companheiros, mas o fazem ao mesmo tempo que comem carne de porco, um animal tão ou mais inteligente e sociável que os cães. E, como qualquer hábito cultural, passível de mudança – tomara que para o melhor!
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