Grandes empresas brasileiras de carne compram bois de fazendas ligadas ao desmatamento da Amazônia

Dados divulgados pela Trase, iniciativa administrada pelo Instituto Ambiental de Estocolmo para monitorar cadeias de suprimentos, e pela ONG Global Canopy, relacionam os riscos de desmatamento a cadeias de suprimento das principais empresas brasileiras de carne bovina: Marfrig, JBS e Minerva Foods.

Essas empresas foram associadas à compra de animais provenientes do desmatamento de 65 mil a 75 mil hectares por ano. Mas, ao serem questionadas pelo jornal britânico The Guardian sobre essa associação, as três se manifestaram e defenderam que seus processos são transparentes e que seus fornecedores têm ficha limpa. Mas, então, por que os números da Trase ligam essas empresas às áreas desmatadas?

Investigações da ONG Repórter Brasil, do The Guardian e da organização investigativa britânica The Bureau of Investigative Journalism descobriram que bois criados em áreas proibidas pelo Ibama eram transferidos para outras fazendas que não tinham problemas ambientais. Ou seja, os animais de alguns fornecedores da JBS, da Marfrig e da Minerva Foods vinham de fazendas que exerciam práticas ilegais e que ocupavam terras desmatadas, com demarcação indígena ou de proteção ambiental na Amazônia.


O Repórter Brasil flagrou bois sendo criados em uma área desmatada e proibida pelo Ibama em São Félix do Xingu (PA), na Fazenda Lagoa do Triunfo. Durante a investigação, foi identificada a transferência de centenas de bois e vacas da Lagoa do Triunfo para outra fazenda sem problemas ambientais do grupo Agro SB. Dessa segunda fazenda, os animais foram vendidos para abate nos abatedouros da JBS.

Documentos obtidos pelo Repórter Brasil também mostraram que 144 bovinos da Fazenda Limeira foram fornecidos para um matadouro da Marfrig em Tucumã, no Pará, mesmo após a aplicação de um embargo por crime ambiental. Em janeiro deste ano, o Ibama encontrou bois da Fazenda Limeira pastando em terras desmatadas ilegalmente em uma região protegida, na área de proteção ambiental Triunfo do Xingu, também no Pará. A mesma área foi devastada por incêndios florestais.