Como veterinários no Brasil são treinados para cuidar de animais

A maioria dos estudantes de veterinária no Brasil escolhe o curso por amor aos animais. Infelizmente, o sistema educacional, financiado pela indústria e pelo governo, serve aos interesses do capital e acaba por dessensibilizá-los, fazendo com que a maioria deixe a compaixão de lado. Animais antes vistos como indivíduos passam a ser vistos como lotes, propriedades, mercadorias.

Por mais contraditório que pareça, futuros veterinários são treinados para cuidar de animais com vistas a atender interesses humanos. A medicina veterinária é colocada assim a serviço da exploração de quem deveria proteger.

Parece absurdo? Veja parte do juramento do formando (os destaques são nossos):

‘’Sob a proteção de Deus, PROMETO que, no exercício da Medicina Veterinária, cumprirei os dispositivos legais e normativos, com especial respeito ao Código de Ética da profissão, sempre buscando uma harmonização entre ciência e arte e aplicando os meus conhecimentos para o desenvolvimento científico e tecnológico em benefício da sanidade e do bem-estar dos animais, da qualidade dos seus produtos e da prevenção de zoonoses, tendo como compromissos a promoção do desenvolvimento sustentado, a preservação da biodiversidade, a melhoria da qualidade de vida e o progresso justo e equilibrado da sociedade humana. E prometo tudo isso fazer, com o máximo respeito à ordem pública e aos bons costumes. Assim o prometo.’’
CÓDIGO DE ÉTICA RES. CFMV Nº 722 DE 2002

Esse fato é muito ilustrativo do que realmente molda os valores da nossa sociedade. Uma sociedade em que a indústria da carne, responsável por 99% de todo sofrimento animal no mundo, está acima da ética, da saúde humana, do meio ambiente (a pecuária responde sozinha por mais da metade do consumo de água doce e produz mais gases de efeito estufa que todos os meios de transporte juntos), e do entendimento de que os animais são indivíduos, não objetos.

Mesmo quando analisamos o discurso de profissionais a respeito de animais domésticos como cães e gatos, existe sempre o discurso de posse, objetificando os animais como passivos de pertencerem a alguém. Vale lembrar que até pouco tempo eram permitidas no Brasil cirurgias de extração de cordas vocais e unhas de pets e cirurgias estéticas como corte de rabo e orelhas, tudo em claro atendimento aos interesses do ‘’dono’’, não do animal..

Entendemos que muitos dos que elegem o curso de medicina veterinária veem seus anseios frustrados por fundamentos arcaicos de ensino que visam aos interesses das indústrias acima da ética.

Enquanto colocarmos nossa sede por dinheiro, prazer, conveniência e nossos interesses individuais acima da ética, do senso de responsabilidade coletiva, das necessidades dos animais não humanos e do planeta como um todo, continuaremos criando e alimentando o caos no mundo.

Pronto(a) para fazer parte da mudança para um mundo que não seja movido a violência?