Reduzindo o sofrimento e promovendo melhorias imediatas para os animais

Por Que Trabalhamos por Melhorias Imediatas

A visão da Mercy For Animals para o futuro é um mundo onde nenhum animal é explorado ou morto para alimentação ou para qualquer outro fim. Nosso foco de atuação são os animais explorados para consumo, e concentramos nossos esforços em duas frentes: 1) promovendo uma alimentação livre de ingredientes de origem animal; e 2) promovendo, desde já, a redução do máximo de sofrimento possível.

Nosso grande objetivo em relação a consumidores individuais é encorajá-los a cortar de sua alimentação todos os ingredientes de origem animal. Fazemos isso com campanhas e publicidade em larga escala, atingindo dezenas de milhões de brasileiros diretamente por meio de vídeos, imagens e postagens nas mídias sociais, materiais impressos distribuídos gratuitamente, e-mails e muitos outros canais. A Mercy For Animals já atingiu mais pessoas com conteúdo pró-vegetarianismo e veganismo do que qualquer outra organização no planeta.

Esse é um trabalho gigantesco, que produz resultados sensacionais, mas não é tudo que podemos fazer pelos animais hoje. Também queremos reduzir o máximo de sofrimento para o maior número de animais possível enquanto ainda são explorados pela indústria. Mas se tudo que fizéssemos fosse apenas pedir às pessoas que mudassem suas dietas, estaríamos perdendo uma imensa oportunidade de, agindo frente a grandes empresas e governos, reduzir o sofrimento de centenas de milhões de animais e conseguir avanços concretos rumo a um futuro livre de exploração animal.

Há quem pense que o argumento de deixar os animais fora do prato é tão frágil que pode perder força quando ocorrem melhorias nas condições de vida dos animais na indústria. Com base nesse argumento, deveríamos deixar os animais sofrendo em condições absurdas e inimagináveis, pois só assim as pessoas iriam considerar o veganismo?

Não é nisso que a Mercy For Animals acredita. Nós acreditamos que o argumento ético de deixar de consumir qualquer produto que dependa de exploração animal é muito forte – tão forte (e lógico) que não se enfraquece quando os animais são tratados de forma menos cruel.

E mais: a Mercy For Animals não vai ficar de braços cruzados. Não vamos ignorar o fato de que podemos poupar bilhões de animais das formas mais absurdas, covardes e cruéis de sofrimento a que são submetidos neste exato momento. Usaremos todos os nossos recursos para reduzir ao máximo a crueldade sofrida por dezenas de bilhões de animais ano após ano, ao mesmo tempo em que continuaremos trabalhando rumo ao nosso mundo ideal, onde nenhum animal é explorado ou morto para alimentação – ou para qualquer outro fim.

Então, além de estimular milhões de pessoas a considerarem o veganismo, nós também encorajamos a mudança por parte de grandes empresas e governos. Por exemplo, nós pedimos às maiores empresas de alimentos que reduzam o sofrimento animal proibindo práticas como os piores sistemas de confinamento intensivo (como as gaiolas em bateria, as celas de gestação e as celas de vitela) e buscamos proibir algumas outras práticas insanas de crueldade, como o corte de bicos de pintinhos com lâmina quente, castração de porquinhos sem anestesia, e outros procedimentos inimaginavelmente cruéis.

Nós podemos pedir às pessoas que considerem o veganismo e podemos ajudá-las mostrando o caminho para elas, e nós já tivemos – e continuamos tendo – muito sucesso fazendo isso. Porém, não temos chances realistas de obter sucesso pedindo a grandes empresas, fazendas e abatedouros que parem de produzir produtos de origem animal em um futuro muito próximo. Então, nós temos três opções para lidar com empresas e governos: 1) podemos simplesmente não fazer nada; 2) podemos pedir que façam algo que certamente não irão fazer, como, por exemplo, pedir a um grande supermercado que pare de vender ovos de um dia para o outro; 3) podemos pedir que ao menos reduzam a crueldade animal, mesmo sendo algo muito distante do que queremos.

Seria fácil simplesmente não fazer nada para mudar empresas e governos. Também seria muito fácil manter uma postura filosófica perfeita e purista pedindo por mudanças que nós sabemos que nunca serão feitas hoje e fingir (como muitos ativistas de internet fazem) que, se falharmos um número suficiente de vezes com os nossos pedidos, a própria população (de alguma forma não especificada) trará a libertação animal em resposta à inércia das indústrias. Nada disso traz qualquer mudança efetiva e real para os animais explorados para consumo hoje.

Tal postura não é somente incapaz de reduzir o sofrimento dos animais, mas não basta para avançar efetivamente em prol de seus interesses.

O Valor das Mudanças de Políticas Corporativas

A Mercy For Animals entra em contato com grandes empresas e com o governo, e nós obtemos sucesso fazendo com que mudem algumas políticas para reduzir o sofrimento animal. Nesse processo, nós levamos à mídia maior visibilidade acerca dos problemas dos animais explorados para consumo (que representam mais de 99% de todos os animais que sofrem pelas mãos humanas).

Uma outra grande aposta da Mercy For Animals é o The Good Food Institute, criado pela MFA para acelerar o progresso e o sucesso comercial de carnes vegetais e de carnes produzidas em laboratório (como carnes, leite e ovos produzidos a partir de culturas de células, sem que qualquer animal seja explorado ou morto no processo). Sabemos que, quanto mais fácil for a transição de hábitos alimentares em larga escala, menos animais sofrerão – e mais rápido o veganismo crescerá.

A Mercy For Animals, junto com outras grandes organizações de proteção animal, já convenceram as maiores empresas de alimento dos EUA e Canadá a se comprometerem a banir o uso de celas de gestação e gaiolas em bateria de suas cadeias de suprimento nesses países. Agora, estamos fazendo a mesma coisa no México, aqui no Brasil e em outras partes do mundo.

Essas mudanças na legislação nacional e nas políticas corporativas serão capazes de reduzir significativamente o sofrimento de mais de 1 bilhão de animais todos os anos. E pela primeira vez na história, nós estamos fazendo com que as maiores empresas, corporações e órgãos governamentais enxerguem o que elas nunca enxergaram: os animais que hoje são explorados para consumo importam. Suas vidas, seus interesses e seu sofrimento precisam ser levados em consideração.

Pare por um momento e pense sobre a importância histórica disso. 99% de todos os animais explorados no mundo são animais explorados para consumo. Mesmo assim, as maiores empresas e órgãos públicos do planeta sempre agiram como se não ligassem a mínima. Agora eles estão começando a levar tudo isso em consideração. Eles estão trazendo melhorias tangíveis, que resultam efetivamente na redução do sofrimento de centenas de milhões de animais.

Nós compreendemos que alguns dos nossos seguidores e apoiadores tenham medo que essas melhorias tenham um lado ruim. Eles estão preocupados que esses avanços façam com que as pessoas continuem comendo carne e outros produtos de origem animal quando elas poderiam estar aderindo ao veganismo, justificando sua atitude devido ao fato de os animais não estarem sofrendo mais tanto quanto antes.Também temem que pareça para o público que é aceitável criar e matar animais, desde que eles ‘‘não sofram muito’’.

Primeiramente, é importante reforçar que acabar com as piores formas de crueldade animal reduz drasticamente o sofrimento deles. Por exemplo, pesquisadores de sistemas de criação de galinhas revelaram que, em uma escala de bem-estar entre 0e 10 – sendo 0 o pior sistema possível e 10 sendo o ‘‘menos pior’’ – os sistemas de gaiolas em bateria receberam 0, enquanto os que criavam galinhas não confinadas em gaiolas receberam de 5 para cima. Mudanças de políticas que substituem os sistemas de abate com ganchos (os que prendem as aves de cabeça para baixo e as mergulham em uma água escaldante antes de cortar seus pescoços quando muitas ainda estão conscientes) por sistemas menos cruéis previne tais atrocidades.

De forma semelhante, uma significativa redução de sofrimento resulta da retirada das porcas de celas de gestação, de melhorias no ambiente onde vivem os frangos, e assim por diante.

Segundo (e o mais importante): há evidências que mostram que, quando empresas se comprometem a fazer mudanças que cumulam em uma redução de sofrimento significativa para os animais, isso só aumenta a atenção e a preocupação do público em geral a respeito de animais explorados para consumo e a forma como são tratados a partir dos grandes veículos de mídia, e o consenso de que a vida desses animais importa também aumenta. Graças a essa atenção da mídia, que antes não existia, o consumo desses produtos cai, ao invés de aumentar (como é a preocupação de algumas pessoas).

Como as Políticas impactam a demanda de consumo

A demanda por produtos específicos sobe ou desce dependendo do preço. O consumo de carne, ovos e leite sempre vai variar de acordo com o preço. Quando o preço cai, a demanda sobe. Quando o preço sobe, a demanda cai. Não é segredo que a maior parte dos progressos de redução de crueldade tem um aumento de custo embutido. Esse é o principal motivo das empresas apresentarem tanta resistência a fazê-los.

Produzir ovos com galinhas não confinadas em gaiolas, por exemplo, pode custar até cerca de 20% mais do que produzir ovos com galinhas confinadas em gaiolas. As melhorias de vida para frangos, que a Mercy For Animals dos EUA está promovendo agora, requerem mudanças políticas legislativas e corporativas e, consequentemente, também demandam um pequeno aumento no custo de produção. Consequentemente, também implica em uma pequena redução proporcional do consumo, o que, por sua vez, acarreta uma redução grande de animais sendo explorados e mortos.

Dados da União Europeia mostram que, nos países em que as gaiolas em bateria foram banidas (antes de serem proibidas em toda a União Europeia), houve uma redução total no consumo de ovos, enquanto foi possível ver um aumento no consumo de ovos em países onde as gaiolas em bateria ainda não haviam sido banidas. Ainda, uma equipe de economistas especialistas em agropecuária nos Estados Unidos estimou que, quando as gaiolas em bateria forem finalmente banidas nos Estados Unidos, deverá haver uma queda de 3% no consumo total de ovos, ou cerca de 8 milhões de galinhas a menos sendo exploradas.

Mas não é apenas o aumento do custo que leva à redução do consumo. A atenção que esse assunto ganha na mídia quando campanhas são lançadas gera grande conscientização do público, que se torna cada vez mais inteirado sobre as formas como os animais são tratados e explorados pela indústria. Como resultado, a demanda por produtos de origem animal diminui quando campanhas por redução de crueldade acontecem.

Dois economistas do agronegócio nos Estados Unidos analisaram 10 anos de vendas de um supermercado para ver como as vendas reagiam às notícias na mídia sobre as condições de vida dos animais explorados para consumo (incluindo cenas de investigações sobre problemas de bem-estar animal e questões legislativas envolvendo o banimento de sistemas de confinamento intensivo)

Eles descobriram que a atenção da mídia acerca de questões relacionadas ao bem-estar animal reduziu o consumo de porco e frango. Segundo os dados, eles concluíram que, não fossem as histórias na mídia falando sobre o assunto da crueldade animal, o consumo de porco cresceria 2,5% e de frango 5%, ao invés de caírem como foi o caso.

Essa diferença sugere que cerca de 1 bilhão de animais deixaram de ser explorados em fazendas industriais por conta da queda desse consumo, graças à atenção que a mídia deu às questões da crueldade, falando de bem-estar animal.

Paralelamente, um outro estudo realizado pela Mercy For Animals mostrou que, quando as pessoas vêem notícias ou artigos sobre empresas anunciando políticas pelo fim do confinamento em gaiolas ou celas, ou notícias falando sobre governos banindo o uso de gaiolas em bateria ou celas de gestação, elas se tornam mais propensas a reduzir o consumo de ovos e carne de porco. Um outro estudo semelhante, realizado por um pesquisador da União Europeia, constatou que, quando pessoas lêem notícias sobre melhoramentos no abate de peixes, há uma redução geral no consumo de peixes.

Um outro estudo constatou que, quando pessoas recebem informações sobre melhoramentos em relação ao bem-estar de animais explorados para consumo, elas em geral tomam uma ‘‘atitude mais pró-ativa’’ em relação aos animais, preocupando-se mais com eles.

Um outro fato é que, na União Europeia, países que mostram atitudes mais progressistas em relação ao bem-estar animal (por exemplo, Áustria, Suíça, Alemanha, Suécia e Reino Unido) possuem taxas maiores de veganismo comparados a países que são menos progressistas na questão do bem-estar animal (como França, Bélgica, Espanha, Irlanda, Finlândia e Noruega). Nos Estados Unidos, uma pesquisa realizada pelo Faunalytics constatou que as pessoas que estão dispostas a pagar mais por ‘‘produtos’’ oriundos de animais que tiveram maior nível de bem-estar animal tornam-se mais propensas a se tornarem vegetarianas que o público em geral. E na Holanda, outro estudo mostrou que aqueles que consomem carne de animais também com níveis mais altos de bem-estar animal consome menos carne do que o público em geral.

Apesar de nenhuma dessas correlações comprovarem a causa, elas sugerem que aumentar a atenção do público e da mídia em relação aos melhoramentos no tratamento de animais explorados para consumo em fazendas, granjas e abatedouros pode promover um aumento de uma alimentação vegetariana e do estilo de vida vegano e reduzir o consumo geral de carne, fazendo com que bilhões de animais se tornem imediatamente livres da total exploração e da morte.

Nossa Visão

Em resumo, ao mesmo tempo que promovemos o veganismo – e isso sempre continuará sendo um dos pilares do trabalho da Mercy For Animals – nós acreditamos que também seja fundamental obtermos avanços junto a empresas, produtores e governos. Existe uma clara evidência de que as políticas de redução de crueldade que estamos obtendo não apenas reduzem drasticamente o sofrimento intenso e inimaginável de bilhões de animais explorados para consumo, como também diminuem a demanda por produtos de origem animal, assim como reduzem a quantidade de animais explorados para consumo e ainda aumentam massivamente o interesse público sobre a ideia de que o sofrimento de animais ditos de consumo também importa.

Enquanto obtemos progresso real para os animais explorados para consumo, nós precisamos ser realistas e entender que a grande mudança que buscamos – o fim da exploração animal – é inédita na história da humanidade. O movimento pelo fim da exploração animal vai contra uma cultura perpetuada há milênios, contra normas sociais, contra a agenda da grande maioria dos partidos políticos e contra os interesses das indústrias e empresas mais poderosas e ricas do planeta. Isso não significa que não podemos obter sucesso, mas que essa mudança não vai acontecer da noite para o dia, e que vitórias ao longo do curso – mudanças que reduzem desde já o sofrimento de bilhões de animais – devem ser celebradas.

Se não existisse esse grande movimento de inovação tecnológica no setor alimentício, como a ‘’Carne Limpa’’ (carnes vegetais e carnes produzidas em laboratório, ambas iniciativas conduzidas pela The Good Food Institute, ONG criada pela Mercy For Animals), a única alternativa viável para dar um grande passo rumo à libertação animal seria ir movendo os grandes setores da sociedade – indivíduos, empresas e governos – passo a passo, progressivamente conscientizando sobre as vidas, interesses e sofrimento dos animais explorados para consumo e aumentando a proteção para esses animais através de políticas e leis.

Nossa visão e esperança são que esse processo, que tem recebido bastante destaque na última década nos países mais progressistas do mundo, continuará pelos próximos anos à medida que surgem novas políticas corporativas e governamentais para reduzir, depois reduzir mais, e depois reduzir mais ainda cada forma de crueldade sofrida pelos animais.

Nesse meio tempo, a ideia de que a vida e os interesses dos animais explorados para consumo importa se tornará cada vez mais presente e viva na nossa cultura e nas nossas leis, acelerada tanto pela educação quanto por políticas de mudança, assim como aconteceu com outras causas sociais.

Enquanto isso, novas alternativas de carnes vegetais, carne produzida em laboratório (sem qualquer tipo de exploração ou sofrimento animal), assim como alternativas para ovos e leites em versões vegetais, se tornarão cada vez mais populares e começarão a substituir fontes de proteína animal em supermercados. Em poucos anos, esses produtos de alta tecnologia estarão mais baratos do que os convencionais, e serão capazes de promover uma mudança muito mais acelerada do que já estamos vendo no momento.

Em algum momento, em um futuro breve, nós esperamos que haja uma convergência de todas essas tendências para a mesma direção com uma realidade na qual 1) O poder político e econômico dos negócios que dependem de exploração animal tenha reduzido o suficiente, 2) O poder político e econômico de negócios que oferecem fontes de proteína que não dependem de exploração animal tenha aumentado o suficiente e 3) Que a preocupação da população em geral em relação aos animais hoje explorados para consumo cresça de forma a ser muito mais fácil implementarmos mudanças efetivas e significativas nos âmbitos público e corporativo. Nesse momento, como sociedade, estaremos atingindo um grande ponto de mudança para todos os animais hoje ainda explorados para consumo.

A mudança é difícil. O mundo está cheio de sofrimento animal e a realidade é que isso irá continuar, mesmo que a população mundial inteira se torne vegana. Avanços conquistados com muito suor nas políticas corporativas e nas legislações têm o poder de reduzir drasticamente o sofrimento de bilhões de indivíduos – indivíduos similares a cada um de nós em comportamento e em valores, que estão sofrendo intensamente neste exato momento e que certamente gostariam desesperadamente de sofrer menos. Ao mesmo tempo, continuamos aumentando a preocupação geral na sociedade e nos meios corporativos acerca dos animais ‘‘de fazenda’’ e conseguimos continuar reduzindo o consumo dos produtos de origem animal. Estes são progressos monumentais rumo a um mundo mais compassivo.

A Mercy For Animals não poderia estar mais orgulhosa por ser uma das organizações estabelecendo esses marcos históricos no mundo, e não poderíamos ter mais orgulho dos nossos seguidores e apoiadores por trabalharem junto conosco para estabelecermos esses avanços fundamentais rumo ao fim da exploração animal.