90% dos animais explorados para consumo no mundo vivem em fazendas industriais

A ideia de que a carne vem de fazendas industriais causa desconforto à maioria das pessoas. Dessa forma, elas justificam o fato de comer animais e alegam que seu alimento foi produzido de forma ética — e não em uma fazenda industrial. Porém, a maioria das pessoas está errada.

Foto: Andrew Skowron

Uma análise global conduzida pelo Sentience Institute sugere que mais de 90% dos animais explorados para consumo do mundo vivem em fazendas industriais.

“Infelizmente, a maioria da população está errada sobre a origem da carne que comem. 75% dos adultos americanos acreditam que geralmente compram produtos considerados “humanitários�? (cuja produção não submeteu animais a crueldade), apesar de que apenas 1% dos animais explorados em fazendas vive em fazendas que não são industriais�?, disse Kelly Witwicki, diretora-executiva do Sentience Institute, em referência a uma pesquisa realizada em 2017 pelo grupo Ipsos.

“Apesar da indignação pública com o tratamento dado aos animais e as consequências ambientais das fazendas industriais, esse ainda é o sistema predominante na pecuária”, disse Witwicki. “O público tem sido capaz de pressionar a indústria a fazer algumas mudanças na direção correta, começando a tirar galinhas poedeiras de gaiolas, por exemplo, mas infelizmente ainda temos visto poucas mudanças na quantidade de animais que vivem nas fazendas industriais em anos recentes.”

O Brasil é um grande criador de animais. De acordo com o Animal Cruelty Index, o país abate anualmente quase 30 animais terrestres por habitante (20 a mais do que em outros países, na média). No Brasil, para cada habitante há 8 animais explorados para consumo, o dobro da média mundial. A esmagadora maioria, cerca de 82,6%, dos animais explorados para consumo no país são frangos de corte.

Em todo o mundo, mais de 9 em cada 10 animais criados em fazendas para consumo são frangos e peixes, e eles geralmente são submetidos aos métodos mais intensivos da pecuária. Nos últimos 10 anos, a demanda global por carne de frango aumentou de forma constante e, com ela, os centros de produção de aves na Europa foram transformados em fazendas industriais.

Dentro de fazendas de frango, as aves vivem uma vida horrível, em espaços superlotados, onde ficam impossibilitadas de andar. Muitos frangos criados em fazendas industriais nunca veem a luz do dia.

Foto: Andrew Skowron

Esses sistemas de criação industrializados não produzem apenas mais frangos. Com a ajuda de aditivos nas rações, fábricas modernizadas, antibióticos e desrespeito pelo bem-estar animal, a indústria consegue criar frangos maiores em um ritmo mais rápido, para vendê-los por menos.

Em apenas 40 dias, os frangos atingem o tamanho máximo. Esse ciclo de crescimento rápido e não natural adicionado à falta de mobilidade acabam afetando seus corpos. Muitos desenvolvem claudicação e, como resultado, enfrentam dores constantes.

Após o período de crescimento acelerado das aves — que causa extremo estresse em seus corpos — elas são enviadas para o abate. Tyson Foods, um dos maiores produtores de carne do mundo, abate em média 35 milhões de frangos por semana.

“Entre o sofrimento desses animais e os impactos devastadores da criação de animais em nosso clima e na sustentabilidade do sistema alimentar, essa é uma catástrofe moral que não podemos mais negligenciar”, disse Witwicki.

Atualmente existem cerca de 23 bilhões de frangos vivos no mundo — ou seja, 3 frangos para cada ser humano. Praticamente todos esses animais só existem para serem criados por humanos para servir de alimento. Algo tem que ser mudado.

Felizmente, existe um rápido crescimento no setor de alimentos de origem vegetal, bem como uma indústria embrionária focada no que chamamos de ‘carne limpa’, que se trata de uma carne real feita a partir de células animais sem que eles sejam abatidos, o que poderia significar o fim das fazendas industriais.

Uma versão deste artigo apareceu pela primeira vez no Sentient Media.