6 dos 9 limites planetários já foram ultrapassados, segundo estudo publicado pelo Centro de Resiliência de Estocolmo

Os limites planetários representam os pontos críticos que se ultrapassados podem desencadear mudanças irreversíveis na vida no planeta Terra.

De acordo com o estudo da Universidade de Copenhague, na Dinamarca,  seis dos nove limites planetários fundamentais para um planeta seguro e estável foram ultrapassados. 

O estudo foi publicado na revista Science Advances, e destaca que as alterações climáticas, perda de biodiversidade, degradação do solo, desequilíbrios nos ciclos de fósforo e nitrogênio, escassez de água doce e proliferação de produtos químicos sintéticos já excedem os limites planetários.

 

Limites planetários

 

Ultrapassar esses limites têm o potencial de desencadear desastres ambientais, incluindo extinções em massa de espécies, escassez de recursos naturais e eventos climáticos extremos, que podem tornar o planeta Terra inadequado para a vida humana. 

Os nove limites planetários

Os nove limites planetários foram inicialmente propostos em 2009 por um grupo de cientistas liderados por Johan Rockström e Will Steffen. Esses especialistas identificaram nove  fatores ambientais essenciais para manter o equilíbrio ecológico da Terra, com o objetivo de monitorar e garantir a sustentabilidade do nosso planeta. 

1. Mudanças climáticas 

Mudanças climáticas são um dos nove limites planetários identificados no estudo e classificados na zona de alto risco devido ao agravamento do aquecimento global, um fenômeno que resulta na  acumulação de gases de efeito estufa na atmosfera. 

Em relatório, o Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC), alerta que a temperatura global pode atingir ou ultrapassar 1,5°C entre 2021 e 2040. Em 2023, a média global  já bateu recorde de calor em diversas regiões do Planeta, conforme registrou o Climate Reanalyzer. 

Os impactos do aquecimento global já são evidentes e, à medida que sua intensidade aumenta, as consequências se tornam mais severas. Isso se manifesta no aumento da temperatura média global, desencadeando eventos climáticos extremos, como fortes chuvas causando alagamentos, secas prolongadas, ondas de calor, redução das calotas polares e elevação do nível do mar, entre outros. 

Essas consequências afetam de maneira desigual as populações em situação de vulnerabilidade, que vivem em locais e condições que as tornam mais suscetíveis a esses impactos.

2. Acidificação dos oceanos

O oceano absorve em média ¼ do dióxido de carbono (CO2) presente na atmosfera, conforme revelou o Relatório de Desenvolvimento Sustentável da ONU. No entanto, o excesso de CO2 liberado pelo desmatamento e queima de combustíveis fósseis faz com que a água do mar absorva cada vez mais quantidade desse gás, reduzindo o PH da água e provocando a acidificação dos oceanos. 

Essa acidez afeta recifes de corais e organismos que estão na base da cadeia alimentar marinha como o plâncton, o que prejudica toda a vida marinha, desde de peixes até mamíferos marinhos. 

3. Destruição da camada de ozônio

Dos 9 limites globais, a camada de ozônio é o único que está controlando, graças a uma aliança global estabelecida em 1987, em que mais de 161 países se comprometeram com a eliminação do uso de substâncias, como clorofluorcarbonos,  responsáveis por sua destruição.

“A camada de ozônio está no caminho certo para se recuperar nas próximas quatro décadas, e a eliminação global de produtos químicos que a destroem contribui para a mitigação das mudanças climáticas, declarou a Organização Meteorológica Mundial (OMM). 

A camada de ozônio impede que raios ultravioleta nocivos para a saúde humana alcancem a atmosfera da terra. 

4. Perda de biodiversidade

A perda de biodiversidade representa um dos limites planetários críticos. De acordo com a Lista Vermelha da União Internacional para a Conservação da Natureza e dos Recursos Naturais (IUCN), aproximadamente metade das espécies animais em nosso planeta enfrenta um risco iminente de extinção.

No Brasil, a pecuária está diretamente relacionada à invasão de biomas para a criação de animais e à monocultura de grãos como soja e milho, usados para ração animal. Essa atividade é a principal responsável pela ameaça de extinção de espécies. Só na Amazônia, mais de 10 mil plantas e animais correm o risco de extinção, conforme aponta o Painel Científico para a Amazônia (SPA). 

O  declínio na diversidade biológica tem o potencial de desencadear desequilíbrios ecológicos, uma vez que cada espécie desempenha uma função específica nos ecossistemas e o desaparecimento de uma única espécie impacta todas as demais.

5. Escassez de água doce

A disponibilidade de água doce enfrenta ameaças crescentes de escassez devido a falta gerenciamento sustentável desse recurso. A previsão é que até 2030, a demanda mundial por água doce se torne 40% maior que a oferta, conforme explicou o presidente da 77ª Assembleia Geral das Nações Unidas, Csaba Kőrösi. 

Atualmente, a retirada de água excede a taxa de reposição natural, e causa a diminuição dos níveis de água. Outro fator que interrompe o ciclo da água é a poluição, já que produtos químicos industriais, como o esgoto não tratado, resíduos agrícolas e plásticos, estão contaminando rios e aquíferos subterrâneos.

6. Uso do solo

O crescente desmatamento e deterioração da qualidade do solo, causado principalmente pela pecuária e produção de grãos que são usados para ração animal,  coloca o uso do solo no limite ambiental. 

Segundo a Organização das Nações Unidas, a degradação do solo já afeta quase metade da humanidade, e se nada for feito até 2050 a extensão de solo infertil no planeta será equivalente à área total da América do Sul. 

7. Poluição química

A poluição química é resultado  da introdução inadequada de substâncias  sintéticas no meio ambiente, como agrotóxicos, pesticidas, plástico, e poluentes industriais. Estima-se que só de resíduo plástico, a humanidade produz 430 milhões de toneladas por ano, conforme apontou o ​​ Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (Pnuma). 

Essas substâncias contaminam o ecossistema aquático e terrestre, o que ameaça a biodiversidade,  agrava o aquecimento global e pode afetar a saúde humana. 

8. Ciclo do fosforo 

O  fósforo é um recurso não renovável, que tem sido usado de forma indiscriminada na agricultura. Ele desempenha um papel vital na produção de alimentos. No entanto, a sua extração excessiva e utilização inadequada na agricultura, está causando a eutrofização de aquíferos, processo no qual as águas subterrâneas são contaminadas e ocorre a diminuição nos níveis de oxigênio na água.

9. Ciclo do nitrogênio

Assim como o fósforo, o excesso de uso do nitrogênio no meio ambiente provoca desequilíbrio ecológico. O excesso de nitrato da poluição industrial e monocultura contamina solo e água e ameaça a biodiversidade. 

Para evitar os impactos negativos do uso excessivo tanto de fósforo quanto do  nitrogênio, é necessário sobretudo investir em práticas agrícolas sustentáveis para reduzir ou eliminar o uso de fertilizantes. 

 

Sistema alimentar

indu

O atual Sistema alimentar, baseado na exploração animal, está relacionado ao rompimento de 5 dos 9 limites planetários. O relatório do IPCC expressou o consenso científico de que a exploração animal para alimentação impacta gravemente na crise climática. 

A criação de animais para consumo exige uso intensivo de recursos naturais como terra, água e energia, além de emitir gases de efeito estufa, que são responsáveis pelo aquecimento global e geram quantidade considerável  de resíduos que contribuem para desequilíbrios nos ciclos de nitrogênio e fósforo. 

Embora a situação seja preocupante, medidas para reverter essa crise ambiental são possíveis, mas para isso é preciso adotar ações globais que incentivem mudanças na no sistema alimentar e promovam uma transição para uma agricultura  mais sustentável, com foco na produção de alimentos de origem vegetal. 

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